Olá, amigos!
O tema a ser discutido hoje é "a obediência". Como sabemos,
desde pequenos aprendemos a obedecer aos mais velhos (primeiramente os pais,
avós, tios, etc.). Isso nos é ensinado como uma forma correta de agir e até de
se respeitar as pessoas que, de alguma forma, estão hierarquicamente acima de
nós, até então.
Em nosso modelo de sociedade possuímos papéis sociais que exigem que
obedeçamos a algo ou alguém. Desde o nosso lar, escola, universidade, até o
trabalho, estamos posicionados numa hierarquia aonde devemos cumprir nossa
função para que as coisas e as instituições, em geral, funcionem. Assim, podemos
concluir que a obediência e as regras, dentre outros aspectos, são essenciais
para o bem-estar coletivo.
Porém, mesmo que a obediência exerça papel importante entre nós, ela também
pode oferecer perigos. E é baseado na publicação do psicólogo norte-americano
Stanley Milgram “Os Perigos da Obediência”, que abordaremos os limites da
submissão e como isso pode se tornar prejudicial às pessoas ainda que não se
tenha essa intenção geral.
Em 1961, Milgram conduziu uma pesquisa na qual recrutou pessoas para
participarem de uma suposta experiência de memória. Os participantes, a mando de
um suposto professor (um ator), puniam com choques (graduais) um terceiro
participante (também ator) quando este não conseguia se recordar da determinada
sequência de palavras a serem memorizadas.
Milgram observou através do teste que a maior parte das pessoas, ainda
que o terceiro participante chegasse ao seu limite ao ser punido com os choques
fortíssimos, não hesitavam em acatar a instrução do professor de aumentar a carga
elétrica dos choques.
Embora possamos atribuir a este comportamento geral observado nos participantes
da experiência de Milgram vários fatores (posição hierárquica legitimada do
professor, medo de desobedecer, etc.), percebe-se uma atitude geral na maioria
dos participantes: a perda da sensibilidade humana diante do sofrimento alheio.
O que se observou foi que, diante da posição do professor, boa parte da
percepção (eu diria até mesmo compaixão) das pessoas foi suprimida ao se
aceitar aumentar a carga elétrica dos choques sofridos pelo sujeito avaliado. A
experiência de Milgram nos mostra um exemplo claro disso. Ao estarem “sob a
responsabilidade” do suposto professor, as pessoas retiraram de si a eventual
culpa pelo sofrimento do participante do teste e prosseguiram até o limite do
experimento, acreditando estarem resguardadas pela posição “superior” do
professor.
“Essa é, talvez, a
lição mais fundamental do nosso estudo: as pessoas comuns que simplesmente cumprem
suas tarefas, sem terem qualquer hostilidade particular, podem tornar-se
agentes num terrível processo destrutivo. Além disso, mesmo quando os efeitos destrutivos
do seu trabalho ficam patentemente claros e que lhes é solicitado cumprir ações incompatíveis
com os padrões fundamentais da moralidade, um número relativamente pequeno de
pessoas tem os necessários recursos internos para resistir à autoridade.”
(Milgram, 1963)
Nesta passagem, Milgram deixa claro que assim como em outros contextos
históricos em que pessoas comuns faziam parte de sistemas atrozes (como o
nazismo, regimes totalitários, ou até mesmo dentro do capitalismo, nas grandes
instituições), não se precisa necessariamente ser uma pessoa de má índole ou
mesmo ter aptidão para se cometer atos ofensivos a outras pessoas. Pode-se
fazer parte de uma estrutura dessas apenas cumprindo-se regras básicas,
superiores ou laterais, que podem, aparentemente, serem simples e banais. Aí é
onde mora o perigo da obediência.
No ponto conclusivo de Milgram, concordo plenamente com ele no que diz
respeito à sempre termos em alerta nossa sensibilidade humanas e a relativa “desobediência
à autoridade”, a fim de que isso não se torne um mal para outras pessoas.
E você, o que acha sobre a relativa “desobediência” defendida por
Milgram? Diante do contexto recente no Brasil de manifestações e
questionamentos, qual é sua posição? Será que a obediência traria resoluções a
nossos problemas coletivos ou só os agravariam?
Para quem quiser saber mais dos experimentos históricos de Milgram, aqui
vão dois links ótimos a respeito. Aproveitem!
Vídeo de uma reedição do experimento: http://redepsicologia.com/experiencia-milgram-obediencia-autoridade
Aniversário de 50 anos do experimento de Milgram: http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/pessoas-comuns-em-atos-atrozes-experimento-de-milgram-faz-50-anos,d849b801069ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
Bibliografia: Milgram, S. (1963). Os perigos da Obediência. Journal of Abnormal and Social Psychology, 67, 371-378.
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