sexta-feira, 19 de julho de 2013

A psicologia do senso comum.


Olá, amigos!

É com este post que me despeço de vocês. Durante este semestre tive a oportunidade de aprender, através da psicologia, um pouco mais sobre o comportamento humano e, com o blog, disseminar este conhecimento! Chegamos agora no fim do semestre, e com ele publico nossa última postagem, então, vamos lá? O texto-base de hoje é um artigo publicado pelas autoras Tânia Mendonça Marques e Marília Ferreira Dela Coleta, ambas professoras da Universidade Federal de Uberlândia.


O objetivo do estudo de caso das professoras é buscar compreender as atribuições causais e reações de mulheres que sofreram violência conjugal. Parece algo distante do nosso cotidiano, certo? Mas não, as atribuições causais fazem parte de uma corrente da psicologia chamada psicologia do senso comum, ou seja, a psicologia utilizado por nós, no nosso dia a dia, através dos nosso valores, conhecimentos e experiências.

A psicologia do senso comum é desenvolvida em cada um de nós através de convenções culturais e é extremamente arraigada no ser humano. Desde criança procuramos uma explicação, um motivo para cada acontecimento. Por exemplo, ao ver uma luz piscar, a pegunta natural da criança é "por que? como?"; isso porque a criança quer encontrar uma causa para explicar o porque da luz estar piscando. Pois bem, a isso damos o nome de atribuição de causalidade.

Para realizar o estudo de caso, as autoras avaliaram as atribuições causais de 71 mulheres para o primeiro e o último evento de violência que passaram. Utilizando o método de classificação das causalidades de Weiner, as professoras observaram que a maioria das mulheres atribuíram para a primeira agressão uma causa interna, instável e controlável, ou seja, uma causa que teria origem dentro do agressor, por causa de uma instabilidade emocional do parceiro. Além disso, elas acreditavam que aquele evento seria uma situação controlável.

Já para o último evento de violência, as causas atribuídas mais observadas foram internas, estáveis e incontroláveis. Aqui podemos observar que as mulheres continuaram a enxergar a localidade da causa interna ao parceiro, mas por causa de uma característica permanente na personalidade do mesmo e não viam mais a situação como algo controlável.

A psicologia do senso comum é baseada na descrição que o observador faz da situação, e não somente baseada em fatos reais. A importância disso está no fato de que tais descrições permitem a psicologia científica decifrar muitas questões acerca do comportamento humano. Vocês já conheciam esta teoria? Quais atribuições causais marcaram vocês? Não deixe de comentar! E obrigado por terem me acompanhado nesta jornada! Até a próxima!

Bibliografia: Marques, T. M. ; Dela Coleta, M. F. . (2010) Atribuição de causalidade e reações de mulheres que passaram por episódios de violência conjugal. Temas em Psicologia, 18, 205-218.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Obediência: até onde pode ser boa (ou ruim)?

Olá, amigos!

O tema a ser discutido hoje é "a obediência". Como sabemos, desde pequenos aprendemos a obedecer aos mais velhos (primeiramente os pais, avós, tios, etc.). Isso nos é ensinado como uma forma correta de agir e até de se respeitar as pessoas que, de alguma forma, estão hierarquicamente acima de nós, até então.

Em nosso modelo de sociedade possuímos papéis sociais que exigem que obedeçamos a algo ou alguém. Desde o nosso lar, escola, universidade, até o trabalho, estamos posicionados numa hierarquia aonde devemos cumprir nossa função para que as coisas e as instituições, em geral, funcionem. Assim, podemos concluir que a obediência e as regras, dentre outros aspectos, são essenciais para o bem-estar coletivo.

Porém, mesmo que a obediência exerça papel importante entre nós, ela também pode oferecer perigos. E é baseado na publicação do psicólogo norte-americano Stanley Milgram “Os Perigos da Obediência”, que abordaremos os limites da submissão e como isso pode se tornar prejudicial às pessoas ainda que não se tenha essa intenção geral.

Em 1961, Milgram conduziu uma pesquisa na qual recrutou pessoas para participarem de uma suposta experiência de memória. Os participantes, a mando de um suposto professor (um ator), puniam com choques (graduais) um terceiro participante (também ator) quando este não conseguia se recordar da determinada sequência de palavras a serem memorizadas.
        
Milgram observou através do teste que a maior parte das pessoas, ainda que o terceiro participante chegasse ao seu limite ao ser punido com os choques fortíssimos, não hesitavam em acatar a instrução do professor de aumentar a carga elétrica dos choques.

Embora possamos atribuir a este comportamento geral observado nos participantes da experiência de Milgram vários fatores (posição hierárquica legitimada do professor, medo de desobedecer, etc.), percebe-se uma atitude geral na maioria dos participantes: a perda da sensibilidade humana diante do sofrimento alheio.

O que se observou foi que, diante da posição do professor, boa parte da percepção (eu diria até mesmo compaixão) das pessoas foi suprimida ao se aceitar aumentar a carga elétrica dos choques sofridos pelo sujeito avaliado. A experiência de Milgram nos mostra um exemplo claro disso. Ao estarem “sob a responsabilidade” do suposto professor, as pessoas retiraram de si a eventual culpa pelo sofrimento do participante do teste e prosseguiram até o limite do experimento, acreditando estarem resguardadas pela posição “superior” do professor.

“Essa é, talvez, a lição mais fundamental do nosso estudo: as pessoas comuns que simplesmente cumprem suas tarefas, sem terem qualquer hostilidade particular, podem tornar-se agentes num terrível processo destrutivo. Além disso, mesmo quando os efeitos destrutivos do seu trabalho ficam patentemente claros e que lhes é solicitado cumprir ações incompatíveis com os padrões fundamentais da moralidade, um número relativamente pequeno de pessoas tem os necessários recursos internos para resistir à autoridade.”
(Milgram, 1963)

Nesta passagem, Milgram deixa claro que assim como em outros contextos históricos em que pessoas comuns faziam parte de sistemas atrozes (como o nazismo, regimes totalitários, ou até mesmo dentro do capitalismo, nas grandes instituições), não se precisa necessariamente ser uma pessoa de má índole ou mesmo ter aptidão para se cometer atos ofensivos a outras pessoas. Pode-se fazer parte de uma estrutura dessas apenas cumprindo-se regras básicas, superiores ou laterais, que podem, aparentemente, serem simples e banais. Aí é onde mora o perigo da obediência.

No ponto conclusivo de Milgram, concordo plenamente com ele no que diz respeito à sempre termos em alerta nossa sensibilidade humanas e a relativa “desobediência à autoridade”, a fim de que isso não se torne um mal para outras pessoas.

E você, o que acha sobre a relativa “desobediência” defendida por Milgram? Diante do contexto recente no Brasil de manifestações e questionamentos, qual é sua posição? Será que a obediência traria resoluções a nossos problemas coletivos ou só os agravariam?


Para quem quiser saber mais dos experimentos históricos de Milgram, aqui vão dois links ótimos a respeito. Aproveitem!




Bibliografia: Milgram, S. (1963). Os perigos da Obediência. Journal of Abnormal and Social Psychology, 67, 371-378.