sexta-feira, 19 de julho de 2013

A psicologia do senso comum.


Olá, amigos!

É com este post que me despeço de vocês. Durante este semestre tive a oportunidade de aprender, através da psicologia, um pouco mais sobre o comportamento humano e, com o blog, disseminar este conhecimento! Chegamos agora no fim do semestre, e com ele publico nossa última postagem, então, vamos lá? O texto-base de hoje é um artigo publicado pelas autoras Tânia Mendonça Marques e Marília Ferreira Dela Coleta, ambas professoras da Universidade Federal de Uberlândia.


O objetivo do estudo de caso das professoras é buscar compreender as atribuições causais e reações de mulheres que sofreram violência conjugal. Parece algo distante do nosso cotidiano, certo? Mas não, as atribuições causais fazem parte de uma corrente da psicologia chamada psicologia do senso comum, ou seja, a psicologia utilizado por nós, no nosso dia a dia, através dos nosso valores, conhecimentos e experiências.

A psicologia do senso comum é desenvolvida em cada um de nós através de convenções culturais e é extremamente arraigada no ser humano. Desde criança procuramos uma explicação, um motivo para cada acontecimento. Por exemplo, ao ver uma luz piscar, a pegunta natural da criança é "por que? como?"; isso porque a criança quer encontrar uma causa para explicar o porque da luz estar piscando. Pois bem, a isso damos o nome de atribuição de causalidade.

Para realizar o estudo de caso, as autoras avaliaram as atribuições causais de 71 mulheres para o primeiro e o último evento de violência que passaram. Utilizando o método de classificação das causalidades de Weiner, as professoras observaram que a maioria das mulheres atribuíram para a primeira agressão uma causa interna, instável e controlável, ou seja, uma causa que teria origem dentro do agressor, por causa de uma instabilidade emocional do parceiro. Além disso, elas acreditavam que aquele evento seria uma situação controlável.

Já para o último evento de violência, as causas atribuídas mais observadas foram internas, estáveis e incontroláveis. Aqui podemos observar que as mulheres continuaram a enxergar a localidade da causa interna ao parceiro, mas por causa de uma característica permanente na personalidade do mesmo e não viam mais a situação como algo controlável.

A psicologia do senso comum é baseada na descrição que o observador faz da situação, e não somente baseada em fatos reais. A importância disso está no fato de que tais descrições permitem a psicologia científica decifrar muitas questões acerca do comportamento humano. Vocês já conheciam esta teoria? Quais atribuições causais marcaram vocês? Não deixe de comentar! E obrigado por terem me acompanhado nesta jornada! Até a próxima!

Bibliografia: Marques, T. M. ; Dela Coleta, M. F. . (2010) Atribuição de causalidade e reações de mulheres que passaram por episódios de violência conjugal. Temas em Psicologia, 18, 205-218.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Obediência: até onde pode ser boa (ou ruim)?

Olá, amigos!

O tema a ser discutido hoje é "a obediência". Como sabemos, desde pequenos aprendemos a obedecer aos mais velhos (primeiramente os pais, avós, tios, etc.). Isso nos é ensinado como uma forma correta de agir e até de se respeitar as pessoas que, de alguma forma, estão hierarquicamente acima de nós, até então.

Em nosso modelo de sociedade possuímos papéis sociais que exigem que obedeçamos a algo ou alguém. Desde o nosso lar, escola, universidade, até o trabalho, estamos posicionados numa hierarquia aonde devemos cumprir nossa função para que as coisas e as instituições, em geral, funcionem. Assim, podemos concluir que a obediência e as regras, dentre outros aspectos, são essenciais para o bem-estar coletivo.

Porém, mesmo que a obediência exerça papel importante entre nós, ela também pode oferecer perigos. E é baseado na publicação do psicólogo norte-americano Stanley Milgram “Os Perigos da Obediência”, que abordaremos os limites da submissão e como isso pode se tornar prejudicial às pessoas ainda que não se tenha essa intenção geral.

Em 1961, Milgram conduziu uma pesquisa na qual recrutou pessoas para participarem de uma suposta experiência de memória. Os participantes, a mando de um suposto professor (um ator), puniam com choques (graduais) um terceiro participante (também ator) quando este não conseguia se recordar da determinada sequência de palavras a serem memorizadas.
        
Milgram observou através do teste que a maior parte das pessoas, ainda que o terceiro participante chegasse ao seu limite ao ser punido com os choques fortíssimos, não hesitavam em acatar a instrução do professor de aumentar a carga elétrica dos choques.

Embora possamos atribuir a este comportamento geral observado nos participantes da experiência de Milgram vários fatores (posição hierárquica legitimada do professor, medo de desobedecer, etc.), percebe-se uma atitude geral na maioria dos participantes: a perda da sensibilidade humana diante do sofrimento alheio.

O que se observou foi que, diante da posição do professor, boa parte da percepção (eu diria até mesmo compaixão) das pessoas foi suprimida ao se aceitar aumentar a carga elétrica dos choques sofridos pelo sujeito avaliado. A experiência de Milgram nos mostra um exemplo claro disso. Ao estarem “sob a responsabilidade” do suposto professor, as pessoas retiraram de si a eventual culpa pelo sofrimento do participante do teste e prosseguiram até o limite do experimento, acreditando estarem resguardadas pela posição “superior” do professor.

“Essa é, talvez, a lição mais fundamental do nosso estudo: as pessoas comuns que simplesmente cumprem suas tarefas, sem terem qualquer hostilidade particular, podem tornar-se agentes num terrível processo destrutivo. Além disso, mesmo quando os efeitos destrutivos do seu trabalho ficam patentemente claros e que lhes é solicitado cumprir ações incompatíveis com os padrões fundamentais da moralidade, um número relativamente pequeno de pessoas tem os necessários recursos internos para resistir à autoridade.”
(Milgram, 1963)

Nesta passagem, Milgram deixa claro que assim como em outros contextos históricos em que pessoas comuns faziam parte de sistemas atrozes (como o nazismo, regimes totalitários, ou até mesmo dentro do capitalismo, nas grandes instituições), não se precisa necessariamente ser uma pessoa de má índole ou mesmo ter aptidão para se cometer atos ofensivos a outras pessoas. Pode-se fazer parte de uma estrutura dessas apenas cumprindo-se regras básicas, superiores ou laterais, que podem, aparentemente, serem simples e banais. Aí é onde mora o perigo da obediência.

No ponto conclusivo de Milgram, concordo plenamente com ele no que diz respeito à sempre termos em alerta nossa sensibilidade humanas e a relativa “desobediência à autoridade”, a fim de que isso não se torne um mal para outras pessoas.

E você, o que acha sobre a relativa “desobediência” defendida por Milgram? Diante do contexto recente no Brasil de manifestações e questionamentos, qual é sua posição? Será que a obediência traria resoluções a nossos problemas coletivos ou só os agravariam?


Para quem quiser saber mais dos experimentos históricos de Milgram, aqui vão dois links ótimos a respeito. Aproveitem!




Bibliografia: Milgram, S. (1963). Os perigos da Obediência. Journal of Abnormal and Social Psychology, 67, 371-378.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Rogers: uma nova perspectiva de aprendizagem


Olá amigos!

Nosso assunto hoje é a aprendizagem. Vamos lá?!

Desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Carl Rogers, a Abordagem Centrada na Pessoa trata-se de uma forma de psicoterapia originada na vertente humanista da psicologia e sugere que o dom de mudar ou aperfeiçoar a personalidade é centrado no interior do indivíduo. Ou seja, nesse caso, a pessoa, e não o terapeuta, é quem determina essa mudança. Assim, o papel do terapeuta é assistir e/ou facilitar a mudança.

Essa mesma metodologia estabelecida por Rogers na psicoterapia tem grande aplicação na área da educação e ensino, o que resultou numa nova forma de transmissão de conhecimento, somando-se a outras Teorias Contemporâneas da Educação. Aplicada à educação e ensino, a técnica passa a ser chamada de Aprendizagem Centrada no Aluno, e é isso que nos interessa neste post de hoje.

Continuando o paralelo que mencionei, na Aprendizagem Centrada no Aluno, assim como na psicoterapia, o indivíduo, nesse caso o aluno, passa a ser o centro das atenções, passando o professor/educador a ser um facilitador ou mesmo supervisor do processo de aprendizagem. Partindo do pressuposto, ainda em paralelo com a psicoterapia, de que apenas o aluno, ou aprendiz, pode se aperfeiçoar e de fato aprender, temos que essa motivação tem de ser despertada nesse indivíduo.

Neste ponto, uma passagem do autor nos ajuda a entender mais claramente seus objetivos com sua proposta psicopedagógica:

"Tem-se de encontrar uma maneira de desenvolver, dentro do sistema educacional como um todo, e em cada componente, um clima conducente ao crescimento pessoal; um clima no qual a inovação não seja assustadora, em que as capacidades criadoras de administradores, professores e estudantes sejam nutridas e expressadas, ao invés de abafadas. Tem-se de encontrar, no sistema, uma maneira na qual a focalização não incida sobre o ensino, mas sobre a facilitação da aprendizagem autodirigida". (Rogers, 1986:244)

A aplicação do método de Rogers não passa muito longe de nossas realidades. Seu sistema de ensino, durante cerca de 15 anos, entre as décadas de 60 e 70, foi utilizado em várias turmas na Universidade de Brasília. Apesar de ter obtido bons resultados em sua aplicação na UnB, o método perdeu força por vários dos alunos ainda preferirem as tradicionais aulas expositivas e formas de avaliação. Além disso, somam-se os fatores políticos que afetavam o sistema de ensino naquela época, em função dos distúrbios causados pela Ditadura Militar.

Outro famoso exemplo de método alternativo de ensino, e que particularmente admiro muito, é a Escola da Ponte, em Portugal. Na escola não existem divisões de séries, grupos e professores. Todos trabalham com todos e formam grupos heterogêneos e autônomos com uma só finalidade: aprender. A escola possui mais de 30 anos de história e tem como diferencial de ensino a pauta em valores como a solidariedade, autonomia e responsabilidade. Apesar de ser um caso de sucesso conhecido mundialmente, o sistema de ensino da Escola da Ponte tarda em ser reconhecido e aplicado oficialmente pelo governo português, o que restringe o método apenas a esta escola.

Para quem quiser saber mais dessa linda e inovadora proposta de ensino, é só acessar o site oficial: http://www.escoladaponte.pt/

Por hoje é só!

Grande abraço!


Bibliografia: Capelo, F.M. (2010) Aprendizagem Centrada na Pessoa: Contribuição para a compreensão do modelo educativo proposto por Carl Rogers Revista de Estudos Rogerianos, A Pessoa como Centro, no. 5.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Psicanálise, Freud e o Mal Estar na Cultura

Olá amigos!
Hoje falarei sobre uma obra interessantíssima de Sigmund Freud, também conhecido como "Pai da Psicanálise", na qual o autor, ao abordar a dicotomia existente entre os impulsos e vontades humanas e a civilização, a vida em sociedade e suas regras, demonstra o estado de mal-estar gerado por essa relação. Sobretudo, por ter caráter psicológico, sociológico e antropológico, a obra, chamada "O Mal Estar na Cultura (ou Civilização)", me despertou grande curiosidade.
Sendo assim, vamos a algumas definições e conceitos que nos ajudarão a compreender um pouco mais o estudo de Freud.
A psicanálise é uma corrente teórica desenvolvida pelo médico neurologista Sigmund Freud e é derivada da psicologia, porém, independente desta. Além do objetivo de fornecer explanações sobre o comportamento humano, utilizando-se os processos conscientes e inconscientes, a psicanálise surge com o propósito de se configurar como um tratamento.
Já o mal-estar está no fato de que a cultura reprime os impulsos dos seres humanos, suas verdadeiras vontades, suas pulsões. Dessa forma, como o homem não pode se expressar em sua totalidade, ele vive em mal estar.

O Ego seria o "eu" de cada um de nós. Sua principal função é balancear nossos desejos e a realidade, e num segundo momento, entre desejos e realidade e as exigências; os valores da sociedade. Para Freud, a definição do ego é baseada em todo evento psíquico anterior do indivíduo. Sendo assim, não existem acasos. A formação do ego também inclui a existência do inconsciente, que se manifesta de diferentes modos na vida mental.
Durante o texto, o autor aborda a constante busca pela felicidade humana, e apresenta para isso, duas possibilidades: a ausência de desprazer ou o sentimento de prazer. Para ele, a felicidade é uma satisfação momentânea das necessidades represadas, porém, quando se fala da felicidade permanente, o contentamento se torna mais frágil
Essa busca pela felicidade passa pela constante tentativa de querermos sucesso, riqueza etc, e quase sempre valorizarmos o que o outro tem, desprezando o que realmente teria valor em nossas vidas. O objetivo dessa busca gira em torno da conquista de uma boa posíção, status social e a imagem  de herói. Porém, ao se procurar chegar nesses objetivos, o ser humano, forçado a viver da forma ditada por sua sociedade, seu grupo, acaba por suprimir suas reais vontades e pulsos, ficando sujeito aos padrões e comportamentos por ela impostos.

Quanto ao amor, Freud entende que amar é uma forma de aliviar o sofrimento, pois o amor nos faz sentir mais protegidos e nos traz ótimas e intensas sensações de prazer, servindo de exemplo em nossa constante busca pela felicidade. Porém, ele afirma que não amamos completamente por uma questão de medo; nos sentiríamos frágeis e vulneráveis nessa situação.

Para o autor, o ser humano seria mais feliz se abandonasse sua forma de vida atual e retornasse as condições humanas primitivas, onde seus pulsos, vontades e anseios seriam mais voluntários e exercidos, causando maior satisfação humana. Claro que isto é posto apenas no sentido de seu estudo. Ele deixa claro que sempre haverá a destruição da natureza para a construção da civilização, da sociedade "culturada". Sem a agressividade, a imposição, o Homem se sente desconfortável. O homem primitivo estava numa situação "mais confortável" por não ter conhecimento das restrições do instinto, mas por outro lado, o Homem civilizado abriu mão de possibilidades de "felicidade" para obter mais segurança para se viver em sociedade dita organizada. O controle da natureza pelo Homem proporcionou a ele mesmo o poder de se exterminar, e este é o principal mal-estar na civilização, representando inquietação, infelicidade e ansiedade.

Algumas posições de Freud ao longo da obra chegam a me "assustar", talvez pela forma com a qual ele nos põe as situações com sua abordagem quase visceral. Porém, a representação de sua obra é realíssima e geral em nosso modelo de sociedade. Talvez haja um ponto ou outro com o qual eu discorde ou acredite que sua posição foi meio radical. Mas acredito sim que vivemos em uma sociedade com os parâmetros retratados por ele. E concordo com o fato de que abrimos mão de várias vontades e desejos, mas por um bem estar coletivo maior, o que acaba suprimindo o bem estar individual, na maioria das vezes.

Então é isso, amigos!
Até a próxima!

Bibliografia: Freud, S. (2010) O mal estar na cultura. Porto Alegre: L&PM.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A atuação da Aprendizagem Condicionada

Olá amigo leitor!

Hoje falarei sobre um tipo de estímulo muito comum e presente em nossa realidade: a construção de associações e relações que fazemos entre diferentes coisas e a atuação disso sobre os vícios, especificamente sobre a adicção de drogas ilícitas. Para isso, temos como base a tese de doutorado de Agostinha Mariana Costa de Almeida, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, de 2008.

Essas relações, também chamadas de "respostas condicionadas", mostram um padrão de associação entre um estímulo, podendo este ser externo ou interno, como festa, dinheiro, amigos, emoção, percepção, e uma resposta, o occasion setting, que na tese abordada seriam as representações dos efeitos das drogas relatadas pelo adicto em seu contexto.

Em sua tese, Agostinha demonstra que a resposta condicionada pode ter efeitos positivos ou negativos. Da mesma forma que um adicto associa de forma condicionada o fato de ele ter dinheiro e assim poder comprar drogas, a resposta condicionada pode servir como inibidor do uso da droga. 

Mas de que foma isso pode ser feito? A autora nos mostra que o sujeito pode aprender a associar o fato de ele ter dinheiro com sua nova qualidade de vida sem o uso da droga. Ou seja, utilizando-se o mesmo tipo de associação que o levou a consumir drogas, o sujeito pode livrar-se delas mudando apenas o occasion setting.

E qual é a aplicação disso no contexto cotidiano de não usuários de drogas? A aprendizagem condicionada pode ser aplicada de várias formas. Quando criança, nós aprendemos que limão é uma fruta azeda e isso nos causa salivação. De forma condicionada, associamos a palavra limão à salivação, assim, nem precisamos ver a fruta, só de escutarmos o nome, salivamos. Esta ação foi aprendida, não é natural do homem. Então, através da aprendizagem condicionada é possível reverter este processo de salivação sem ao menos ter algum contato sensorial direto com o limão.

Interessante não é?! Vou começar a prestar mais atenção nos meus comportamentos que foram aprendidos condicionalmente. E vocês?!



Referência bibliográfica: Almeida, A.M.C. (2008) Complexidade de associações de estímulos condicionais de occasion setting do contexto do uso de droga com abstinentes de cocaína: uma interface entre o laboratório e a clínica. Universidade de São Paulo: tese de doutorado.


domingo, 26 de maio de 2013

Bipolaridade: um estudo de caso.

Olá amigos!
                No post de hoje, dando continuação à minha iniciação ao mundo da psicologia, apresentarei um estudo de caso muito interessante e prático relatado por uma, até então, estudante de graduação do curso de enfermagem da USP. Luciana Martins nos apresenta seus relatos sobre sua experiência de acompanhar, num trabalho de Assistência de Enfermagem, uma paciente que sofria de um distúrbio chamado Psicose Maníaco-Depressiva (PMD), bem como suas reações, impressões e dificuldades ao longo desse trabalho de estágio feito em uma disciplina de seu curso.

                Uma boa definição simples e concisa nos é apresentada por Luciana, quanto ao distúrbio:
“A Psicose Maníaco-Depressiva (PMD) é um distúrbio do humor chamado de perturbação bipolar e é subdividida de acordo com a sintomatologia do episódio presente: maníaco, depressivo ou misto”.

Levando em consideração que atualmente muito se fala e muito se ouve falar sobre “comportamento bipolar”, “bipolaridade”, etc, este estudo muito nos esclarece sobre o tal distúrbio e suas fases.

Como já dito, há três fases nessa patologia. Na fase mista, o paciente passa por uma estabilização de humor, gerando aparência de normalidade. A fase maníaca tem como quadro sintomas relacionados a uma euforia intensa, com elevação de humor, sentimentos de grandiosidade, ansiedade e insônia que pode se agravar para irritabilidade, hostilidade e violência física contra quem tentar aconselhar ou colocar limites no paciente maníaco.

          Como contraste, na fase depressiva, o sentimento marcante é a melancolia. O paciente extremamente desinteressado pela vida, perde o prazer em qualquer tipo de atividade, tendo dificuldade de concentração se sente desanimado e inútil. É inseguro, possui baixa auto-estima, sentimento de culpa, pensamentos suicidas e outros sintomas semelhantes.

A paciente de Luciana foi internada com o diagnóstico de PMD crônico de ciclagem rápida, ou seja, não apresenta a fase mista, oscila entre maníaca e depressiva rapidamente. No começo, em que a paciente se encontrava no período depressivo, a enfermeira, sem conseguir obter resultados satisfatórios de imediato, desanimou-se, pensando em desistir. Porém, um dia, interagindo com sua paciente, Luciana buscou mudar um pouco sua abordagem. Usando as técnicas terapêuticas, a enfermeira conseguiu estimular a paciente a falar sobre seus sentimentos, e com uma postura livre de julgamentos, criou um ambiente mais seguro e confortável, ajudando a paciente a desenvolver visões positivas da vida.

        Em seu artigo, Luciana deixa clara a importância destas técnicas terapêuticas, bem como o uso da própria personalidade do enfermeiro em favor do bom relacionamento do paciente, a fim de se obter uma boa compreensão e estabelecer uma relação de confiança entre enfermeiro-paciente.


Quem quiser ler o estudo de caso na íntegra pode acessar o seguinte link: http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/478.pdf


domingo, 12 de maio de 2013

O perfil da memória de S.


Olá, caro leitor!
Dando prosseguimento ao último post, hoje continuarei algumas descrições e impressões de Luria sobre seu paciente S., e resgataremos algumas questões e características desse tão emblemático sinesteta, bem como finalizarei essa sequência de posts sobre o estudo de caso de Luria.
A partir das últimas questões do autor e suas observações, o mesmo chega à conclusão de que S. era, de fato, diferente de ‘nós’ por suas habilidades de fazer as associações que fazia, apesar de deixar claro algumas dificuldades de S. em expressar tudo isso em palavras. Com base nisso, Luria se pergunta: “Que tipo de mente era essa?”; “Como S. fazia para aprender, adquirir e dominar conhecimento e complexas operações intelectuais?”; “O que diferenciava sua maneira de pensar dos outros?”. (A.R. Luria, 2006 p.83)
Diante da busca por estas respostas, Luria encontra uma grande contradição: no mundo de S., a riqueza de pensamento e imaginação combinava-se curiosamente com limitações de seu intelecto. A partir disto, o autor começa a classificar, separadamente, creio eu que para facilitar nosso entendimento, os pontos fortes e fracos de S. e sua habilidade até então “incrível” e, relativamente, “infalível”.
Uma das formas de classificação que ajudava S. em suas associações era sua forma de pensar “especulativa”. Sua mente era operada pela visão e seu pensamento consistia em operações que realizava sobre suas imagens. Diante disso, ele conseguia se envolver profundamente numa narrativa, por exemplo, por nunca perder um detalhe, por vezes até mesmo encontrando “erros” e contradições em inúmeros contos (como os de Chekhov) e várias outras obras literárias que tinha contato. S. tinha uma “leitura gráfica” das histórias, tendo o foco nos detalhes da trama, diferentemente dos autores, que se preocupavam com as ideias e desenvolvimento do texto.
A mesma facilidade era por S. encontrada para a resolução de problemas práticos e logísticos, por ele ser capaz de projetar e visualizar os acontecimentos e possíveis cenários previamente em sua cabeça. Daí seu “modo especulativo”.

Após a enumeração de alguns pontos úteis e considerados positivos na habilidade de S., o autor põe em questão as “vantagens” da forma de pensar de S..

Nesse ponto, Luria se pergunta: “Haveria riscos em confiar exclusivamente num pensamento figurativo e particularmente sinestésico?”.
S. faz uma afirmação sobre sua habilidade: “Outras pessoas pensam enquanto leem, mas eu vejo tudo”, descreve-se. (A.R. Luria, 2006 p.98)
Porém, uma grande dificuldade ocorria a ele caso lesse rápido demais. Ao formar as imagens em sua cabeça, com velocidade, era causada uma confusão, já que as imagens viriam rápido demais, se sobrepondo, ficando assim deformadas. Por outro lado, se S. fizesse uma leitura muito pausada, também eram criados problemas à sua compreensão, já que enquanto lia um trecho, formava uma imagem sobre ele. No caso de uma descrição contínua de itens, por exemplo, ele teria que desfazer uma imagem já concebida para formar outras que, segundo a sequência de descrição, não estava de acordo com o que imaginara inicialmente.
Assim, essa forma de imaginação de S. poderia representar tanto uma ajuda quanto um obstáculo na aprendizagem dele, já que o impediam-no de concentrar-se no essencial.
Por conta da formação de imagens e ligações de cada palavra a uma respectiva coisa, S. também possuía problemas com sinônimos, homônimos e metáforas, o que causava confusão a ele. Isso se tornou um tormento para sua compreensão de poesias e obras, ricas nestes recursos literários e sentidos figurativos.
Além da capacidade de memória, independente de seus lados positivos e negativos, S. conseguia, através de suas habilidades, ter um grande controle sobre seu corpo, mais do que um homem comum. Ele era capaz de manipular, por exemplo, seus batimentos cardíacos e a temperatura corporal, como exemplifica Luria, relatando alguns dos testes realizados com seu paciente, no qual S., pensando em situações em que estivesse em perigo, faz seus batimentos aumentarem, por exemplo. Ele descreve sua própria habilidade com a frase: “Se quero que algo aconteça, simplesmente imagino-o em minha mente”.
Porém, essas experiências eram subjetivas a S., assim como seu “controle da dor” (na qual relata que conseguia, ao imaginar imagens associadas à dor sofrida numa visita ao dentista, reduzir a dor sentida pelo manuseio de instrumentos em sua boca). Seu corpo, fisiologicamente, sentia os estímulos e os recebia, porém, devido à sua percepção, o que ele sentia era reduzido, ou alterado, por suas impressões sinestésicas, o que não gerou grande resultado nesse sentido à pesquisa de Luria.
Luria esclarece que para S., a linha entre imaginação e realidade era rompida, pois “as imagens que sua imaginação fazia surgir davam uma impressão de realidade” a ele. E isso gerava grandes transtornos a S., por não ter, por vezes, grande discernimento de sua imaginação e realidade, o que causou durante sua vida, comportamentos estranhos, transtornos, sucessivas trocas de emprego etc.
Com tudo isso, Luria conclui, com o estudo de caso de S., que a psicologia deve se focar mais nos aspectos vitais, essenciais da personalidade humana. Podemos voltar aqui, ao conceito e ideia que já expliquei aqui, na apresentação do autor, de “Ciência Romântica”, aonde o sujeito e tudo que o cerca, são essencialmente levados em conta na tentativa de compreensão da problemática ou o que a causa no indivíduo em questão. Compreender o seu contexto, suas vontades, dificuldades, habilidades, origens, dentre uma série de itens que fazem parte da formação do sujeito, interessam a Luria, na tentativa de se encontrar não uma explicação lógica e objetiva do sofrimento de seu paciente, mas, talvez, uma forma de viver, na qual o seu paciente, ou amigo, possa se sentir menos angustiado, sofrer menos com o que se passa em sua mente.
Concluímos aqui, a apresentação dessa obra marcante, que por vezes, em minha opinião, se mostra excessivamente detalhista (talvez um pouco como S.), porém de fácil entendimento e leitura. Porém, ao mesmo tempo, considerando-se a amplitude da história descrita, acredito que seja justo o autor ter se utilizado de tantos exemplos e detalhes para melhor demonstrar a realidade vivida por seu amigo e paciente, S..
Deixo aqui também, um link interessante do site Mundo Estranho que, apesar de tratar como ‘distúrbio’, traz definições simples e de fácil entendimento sobre sinestesia, caso eu tenha deixado a desejar nessa explicação em algum momento.
O site também traz alguns sinestetas ilustres como o pintor, também russo, Kandinsky e o grande guitarrista (do qual sou fã) Eddie van Halen. Vale a pena conferir! http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-e-sinestesia

Referência bibliográfica: "A Mente e a Memória" - A.R. Luria - Martins Fontes, 2006.